A Publicidade e o Marketing Político (qualquer semelhança é mera coincidência)

Se existe algo difícil de engolir distante de ser agradável é quando políticos aparecem na TV para falar sobre os seus feitos "maravilhosos" (como se não fossem obrigações do ofício para o qual são muito bem remunerados) e das suas pretensiosas virtudes, ou então fazendo rasgações de seda em benefício de seus partidos ou aliados (que sabemos ser temporários por mera conveniência até as próximas eleições).

Eu particularmente, como sou um cara um tanto politizado,  costumo mudar de canal prestar atenção caso perceba algum resquício de sinceridade na voz do político locutor, porém como tais ocorrências são muito raras, quase nunca. Os discursos são tão parecidos que vez ou outra nosso cérebro tenta adivinhar qual será a próxima fala, quase sempre com alto percentual de acerto. O engraçado é que quase não nos apercebemos disso. Possivelmente sejam reflexos de automatismos semi-conscientes, sei lá. Não sou psicólogo, portanto não entendo bulhufas sobre estas anomalias psicóticas coisas.

De uma coisa eu sei: quanto mais eles usam de tempo para tentar nos convencer de que são os melhores, mais nos convencemos do contrário (pelo menos comigo é assim). Não percebem que são como aquelas pessoas chatas que falam pelos cotovelos sem nos dar a menor chance de balbuciar nem um "mas...". Pior. Chegam a ser iguais àqueles cujo assunto é monotemático: eu! Eu fiz, eu faço, eu sou... Chatíssimo, não é? 

Pior ainda é quando você tenta trocar de canal e o dito cujo continua falando, fazendo até com que acredite que é defeito da TV, mas não. É a mesma figura em todos os canais! Que saco! Ou você desliga e vai dormir ou mantém ligada e assiste até o final, torcendo para que aquela m aquele suplício termine o mais rápido possível.

Em tempos de eleição chega até a ser engraçado ver os partidos disputando mais tempo na telinha. Não é o mesmo que brigar para ser o mais chato de todos? Porém (sempre tem um porém, mas ou entretanto) não se iluda porque de bobo eles não têm nada, pois sabem muito bem pelo que estão brigando. Acredite se quiser, mas contrariando a nossa lógica,  chatice também ajuda a angariar votos, e muitos!

Irreal? Não! A coisa funciona mesmo! Quer saber como? Notou que sem querer propositalmente repeti algumas vezes a palavra "chato" e umas de suas variantes? Pois tenho quase certeza que agora esta palavrinha feia está "saltando" de um lado para o outro na tua mente. Em alguns momentos chega a surgir pulsando na tua frente em letras luminosas. Também não duvido que ela te acompanhe durante todo o dia, surgindo aqui e ali  por culpa de alguma música, pessoas, reportagens... Talvez ao dormir chegue a sonhar com ela. Ah, ta! Contigo não acontece, né? (frustrei...)

Mas... mesmo que não ocorra com você tal como eu disse, tenha isso como exemplo porque é assim que funciona. Outro exemplo que posso citar é aquela musiquinha pentelha que você não lembra onde ouviu, entretanto não sai da tua cabeça. Por mais que tente mudar de "estação", logo estará cantarolando a danada novamente. Aaah!!! Isso acontece? Que maravilha!(ufa!)

Pois é... A coisa funciona de tal modo que depois de certo tempo aquele político chato pentelho começa a te parecer mais e mais simpático. Lembra que falei que talvez você mantenha a TV ligada e assiste até o final? Pois é aí que mora o maior perigo. Pode ser que logo sinta uma estranha atração pelos argumentos dele e ao final até uma certa simpatia pela sua figura. "O que ele(a) falou tem alguma lógica." - poderá pensar. E você começará a refletir sobre tal assunto. É possível também que comente com algumas pessoas sobre o ponto de vista dele como se fosse a tua própria opinião. Se isso acontecer, sinto muito, mas tá amarrado(a)!

Na próxima vez vai assistir de novo, mais uma vez e outra... e chegará o momento que ele se tornará teu ídolo. Quer saber? Você vai até brigar por ele(a) em debates sobre política entre amigos. Pode ser que até se chateie com esse ou aquela e passe a considerar algum como odioso inimigo. Exagero? Talvez...

Então voltemos a falar daquela musiquinha. Digamos que na primeira vez que a ouviu foi ódio imediato. "Que merd droga é essa? Não acredito que alguém possa gostar de uma coisa tão horrorosa!" Acontece que, talvez por um surto de "inconsciente coletivo", muitos DJs passem a adorar a maldita e ela começa a ser tocada em várias rádios que goste de ouvir. Logo você também passará a gostar, cantarolar, bater o pezinho, balançar os joelhos e (o pior dos sintomas) movimentar os glúteos lentamente e ir aumentando o rítmo gradativamente até que seja de forma alucinada. A partir daí ela estará na lista das tuas preferidas. Martela, martela, martela!... e você passa a gostar também do estilo como um todo a ponto de comprar CDs de vários "cantores" do gênero. Não que ela tenha deixado de ser merlin, mas acabou controlando a tua mente. Em outras palavras, tá dominado(a)!!!

E por que com políticos seria diferente? Você lembra de um certo ditador que fez seus compatriotas assassinarem centenas de milhares de estrangeiros? Pois foi ele o primeiro a utilizar essa técnica. Primeiro criou uma imagem de si mesmo que pudesse ser única e marcante. Foi quando apareceu com aquele bigodinho horrível e o penteado lambido. Não há como esquecer, não é? Depois usou a técnica da "pentelhação" utilisando o rádio (ainda não existia a TV), porém não de forma aleatória. Foi tudo muito bem pensado e ensaiado, um verdadeiro teatro. Os gênios que trabalhavam para ele descobriram que quanto mais cansado está um indivíduo, mais sua mente está predisposta a ser "manipulada" e que o timbre de voz numa certa tonalidade e com um certo rítmo duplicaria este efeito. Se utilizasse a demagogia (apelação a emoções e sentimentos do povo; falar o que o povo quer ouvir), o sucesso estaria praticamente garantido.

Como naquela época era costume trabalhar muito até as sete da noite e a maioria dos patrões serem estrangeiros, nada melhor que o seu público-alvo fosse a classe trabalhadora e o melhor momento lá pelas oito da noite, logo após cada um ter tomado o seu banho, estar se preparando para tomar uma sopa quente enquanto ligava o rádio para tentar relaxar o corpo e a mente super cansados, muitos maldizendo seus patrões.

Então ele entrava "on air" discursando sobre suas ideologias xenofóbicas e racistas utilizando das técnicas que citei, incitando os trabalhadores mais ainda ao ódio. Contra quem? Os patrões estrangeiros e todos que fossem da mesma "raça", claro! Nem preciso dizer qual foi o infeliz resultado, não é?

Se não me engano, o que pode explicar melhor estes fenômenos é a tal semiótica, a mesma que é utilizada com muita propriedade pelos "papas" da Publicidade. Não foram eles que nos te fizeram acreditar que aquele produto feito à base de gordura vegetal (eca!) faz você iniciar o dia tão feliz que chega até a cantar? E nós você comprou, não é vero? Com certeza aquela música (e não o sabor) te faz lembrar dela até hoje. Está reclamando? Mas ela não te proporcionou um happy day? 

É... tive a mesma sensação foi exatamente como imaginei. A questão é que dificilmente damos o braço a torcer e sempre teremos na ponta da língua alguma desculpa esfarrapada para conseguir engolir aquele sapo. "Mas o sabor é ótimo!" Só que antes você desejava ser feliz, não é mesmo? E quem não deseja isso? Que tal sermos sinceros? Você comprou para ser feliz! Depois quisemos qualidade de vida, né não? rá rá rá rá!!!

Pior é aquele sentimento de fidelidade que acabamos adquirindo. O outro é mais barato e até parece ser de melhor qualidade, mas... "não, não! Já me acostumei com este e sei que é o melhor porque lava mais branco!"

Não seja egoísta se preocupe pois isso não acontece apenas contigo! Por todo o planeta o "mundo" da Publicidade é assim: cor de rosa. Nele, este ou aquele produto sempre te proporcionará o que você mais deseja: conforto, felicidade, harmonia, paz, satisfação, mulheres ou homens de rara beleza, energia, vitalidade e por aí vai. É como usar da demagogia para vender a imagem de um político e/ou até mesmo ideologias funestas ou utópicas.

Ainda assim, pior que os produtos que nos empurram utilizando nossos sentimentos é essa tal demagogia,isso porque na maioria das vezes nos faz escolher os que forem mais "171", isto é, os que utilizam recursos mais envolventes, e quem age assim normalmente são os mais espertos. O resultado dessa esperteza toda sabemos bem onde vai dar, não é vero?

Pior mesmo é quando passamos a idolatrar este ou aquele a tal ponto que o nosso sentimental passa a impedir que suas maracutaias adentrem o nosso racional e, assim como fazemos com os produtos, passamos a encontrar desculpas das mais esfarrapadas para proteger o nosso ídolo de "maldosas línguas" que apregoam mentiras contra ele. "Será que não percebe que é uma trama politiqueira para denegrir a imagem dele(a)?" Ou ainda "veja bem, ele(a) agiu assim por uma boa causa, porque precisava disso para atingir tal objetivo." 

O ídolo do sujeito prejudica toda a sociedade, inclusive ele próprio, e ainda assim o defende? Fala sério, né? Entretando, a partir do que foi exposto até aqui, o ideal é que sejamos mais tolerantes com os que agem desse modo, mesmo porque talvez nós mesmos façamos o mesmo sem o perceber.

Publicare et propagare (publicar e propagar) são as origens mais remotas da Publicidade e da Propaganda, primeiro pelos romanos e depois pela Igreja (propagare) como termo utilizado para designar a propagação da fé. No Brasil há quem acredite que Publicidade e Propaganda são sinônimos, mas suas raízes dizem que Publicidade seria para "tornar público" e Propaganda para "disseminar; propagar idéias, filosofias, ideologias, etc". A meu ver, os dois não são sinônimos, porém são utilizados simultaneamente para atingir determinado objetivo, seja vender um produto, disseminar uma idéia, uma imagem, etc, etc, etc...

O que esqueceram de nos esclarecer é que em muitos casos (pelamordedeus,  não são todos, viu?) também estão embutidos o "manipulare", o "ludibriare", o "enganare", o "prejudicare" e muitos outros "ares" nocivos aos indivíduos ou à sociedade como um todo. Alguns tão nocivos que chegam a impelir muitos a também desejarem toda essa "felicidade" prometida e a se utilizarem de meios dos mais violentos para adquiri-la, visto não terem a menor condição financeira para suprir tal intento. Eis uma das principais causas da chamada violência urbana, coisa que raros são os que conseguem enxergar.

Sei que deve estar me xingando por ter me alongado tanto com esse artigo que chega até a parecer um livro jornal,  mas juro fiz de tudo para torná-lo o mais longo reduzido possível e peço desculpas.

Só para finalizar hehehe,  quero dizer que para que estas coisas possam ser atenuadas e comecemos a fazer parte de uma sociedade mais justa, o ideal é que aprendamos a controlar mais as nossas emoções ao nos deparar com tais apelações (sim, são apelos pois a publicidade de um modo geral não pede, manda: Beba! Compre! Vote!) e que paremos de nos achar inferiores a certas pessoas a ponto de idolatrá-las e até endeusá-las.

Lembre-se sempre que ninguém é melhor ou pior que você e nem vai ser um objeto, produto ou pessoa que te fará realmente feliz. Só existe um modo de preencher o tal "vazio" que todos nós sentimos e do qual alguns publicitários se apropriam para nos empurrar goela abaixo um monte de supérfluos: fazer sorrir aqueles que realmente sofrem por uma dolorosa doença, pela fome, pelo frio, por solidão ou pelo principal que é a carência do mais nobre dos sentimentos, que é o Amor.

Procure ao máximo analisar se não há qualquer uma dessas armadilhas embutidas em todo e qualquer discurso, seja ele publicitário, jornalístico, literário, filosófico, doutrinário, ideológico e, principalmente, político. Resumindo: seja sempre sacerdote de si mesmo(a)! Ser feliz é isso aí!

Se é verdade tudo o que falei? Sei não... só sei que é assim!...

Beijos no coração...

PS. Não sei porque, mas de repente comecei a sentir uma sede danada!

4 comentários:

  1. Meu amigo, reitero aqui tudo que disse num outro comentário sobre o seu blog: você escreve bem demais! O fecho desta crônica valeu por si só. Poucas pessoas hoje em dia tem essa consciência do que realmente importa e faz falta ao ser humano: o amor ao próximo!
    Parabéns e continue escrevendo essas coisas lindas.

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  2. Neusa,

    mais uma vez, obrigado pelo carinho e pelo incentivo! Muitas coisas boas pra vc!

    Beijos no seu lindo coração...

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  3. Vera,

    só me resta agradecer por tanto carinho. Deus te abençoe sempre!
    Beijos no coração...

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  4. Finalmente! Posso dizer agora que adorei mais este "pequeno" texto!

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