Mosquitos híbridos e radiação contra o Aedes aegypti não funcionariam, diz pesquisadora do mosquito Culex

Aedes aegypti
fonte: wikipedia

Em postagem sobre a dengue, do dia 04/11/2011, questionei sobre a possibilidade da utilização de mosquitos híbridos para eliminar infestações do Aedes aegypti nos meios urbanos e rurais e assim diminuir a incidência de casos de dengue no Brasil.

Usei como argumento um experimento feito em 1967 pelo professor Hannes Laven (então diretor do Instituto de Genética da Johannes Guttenberg University, Mainz, Alemanha Ocidental) na aldeia de Okpo, Birmânia, cujo resultado foi a eliminação total da infestação de mosquitos que icomodavam os habitantes daquele lugar. 


Isso se deu porque os machos mestiços utilizados no experimento eram estéreis devido a incompatibilidade genética das raças envolvidas na hibridação. Estes machos teriam se mostrado muito "amorosos, fazendo eficiente concorrência aos mosquitos machos da Birmânia". Resultado: dos ovos não nasciam novos mosquitinhos. Ocorreu uma aniquilação genética. Daí a minha pergunta: "por não com o Aedes?"

A mesma postagem, mais precisamente na citação tirada do livro de Erich Von Däniken, diz que o professor Laven teria esterilizado machos de algumas espécies com o mesmo objetivo utilizando radiação.

Para não restar dúvidas quanto a possibilidade de sucesso utilizando estas mesmas técnicas contra o Aedes, fiz contato com a bióloga Sirlei Antunes Morais, especialista em Zoologia e Entomologia Médica, Mestre e Doutora em Saúde Pública pela FSP/USP, que atualmente desenvolve pesquisas nesta instituição, no campo de genética populacional do mosquito Culex quinquefasciatus da América do Sul, por meio do blog Mosquito Culex, de sua autoria.

Indagada sobre as minhas dúvidas, a sua resposta foi objetiva e esclarecedora:

"(...) ironicamente a hibridação no caso do Culex contribuiu para aumentar a capacidade de adaptação e a transmissão de agentes virais deste vetor. Também as técnicas de controle com espécies hibridas não têm se mostrado muito efetivas, principalmente pelo baixo nível competitivo entre espécies introduzidas (as que estão fora da sua área de adaptação natural) e as selvagens, com vantagem para as últimas.

Lembremos que a hibridação tem relação direta com fatores adaptativos in situ (regionais) e isso geralmente diminui a viabilidade nos resultados no caso de controle populacional. 

No caso da esterilidade por radiação, o Brasil fez há algum tempo vários investimentos na área, porém a liberação de partículas radiotivas no ambiente não é nada ecológico nem natural, somado que os mosquitos ficaram igualmente em desvantagem adaptativa no quesito acasalamento.

Os estudos mais recentes têm envolvido manipulação genética em promotores para expressão de proteínas modificadas, de modo a alterar os mecanismos de fertilização em fêmeas. Nesses testes são feitas microinjeções em ovos e depois os imaturos são criados em laboratório. Eles estão em fase inicial tanto no exterior como no Brasil e existem boas perspectivas, principalmente para o Aedes."

Portanto, segundo a resposta da doutora Sirlei, tanto a hibridação quanto a esterilidade por radiação não dariam certo com o Aedes porque, além de não surtir o efeito desejado por falta de adaptabilidade no quesito acasalamento, teriam ainda os efeitos colaterais que poderiam causar maiores prejuízos, assim como os mosquitos se tornarem melhores vetores para os vírus tal como aconteceu com o Culex e, no caso do uso de radiação, o risco de contaminação radioativa em outros seres vivos do meio ambiente natural, inclusive o ser humano.

Resta-nos, porém, os estudos em curso com a utilização de manipulação genética, tema principal da postagem em questão. É ótimo saber que os pesquisadores brasileiros também estão utilizando esta técnica em suas pesquisas e torcemos para que obtenham resultados satisfatórios o mais breve possível.

Diferente de jogadores de futebol, pilotos de F1 e políticos "salvadores da Pátria", cujas funções sociais são mais que questionáveis, os pesquisadores sim são os verdadeiros heróis de que o Brasil precisa.

Aprender a reconhecer e a valorizar os seus esforços é dever de todos nós.

2 comentários:

  1. Parabéns Soul da Paz, essa postagem contém um assunto muito interessante para os tempos atuais. Devemos lembrar que muitas pesquisas não são expostas publicamente por não alcançarem os resultados esperados. Contudo, foram realizadas de modo conclusivo, sempre contribuindo para o desenvolvimento da ciência. Um abraço, Sirlei

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  2. Obrigado, doutora! É uma honra ter a sua participação no meu blog! Deus te abençoe sempre!

    Abraço

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