A Água, Guerras e Brasil: como será o amanhã? (texto, fotos e vídeos-documentários)


"War and water" (guerra e água)
fonte: Clean Water


"Água, líquido incolor, inodoro e insípido, é essencial à vida humana. Um homem de 70 kg deve ingerir diariamente, entre líquidos e sólidos, cerca de 2,5 l de água. Sua utilização, contudo, não se limita a tal fim. Ela é usada para os mais diversos objetivos, como gerar energia elétrica, industrialização ou agricultura." (Vladimir Passos de Freitas)

ÁGUA E GUERRA

Fundamental para a sobrevivência de todos nós, a água doce do planeta está se esgotando  rapidamente e ao mesmo tempo em que a população mundial cresce vertiginosamente. As previsões não são nada animadoras. Segundo elas, caso não haja a conscientização em massa para a necessidade de mudanças nas nossas atitudes com o trato e o consumo de água, daqui a vinte, trinta ou, mais tardar, cinquenta anos, mais da metade do planeta estará em guerra em disputas pelo líquido mais que precioso à vida.


ÁGUAS DO BRASIL

Nós, brasileiros, ainda não percebemos tais mudanças porque nosso país é rico em mananciais, o que nos dá a falsa impressão de que assim o será eternamente. É verdade que 12% da água doce do mundo está no território brasileiro, entretanto vejamos outros números:
  • 77,5% da água do planeta é salgada, portanto somente...
  • 2,5% é água doce.
Dos 100% de água doce,
  • 69% estão sob a forma de geleiras glaciais, calotas polares e neves eternas;
  • 30% sob a forma de águas subterrâneas;
  • 0,3% em rios e lagos e...
  • 0,7% sob a forma de vapor, pântanos e umidade do solo;
  • 1% de toda água doce é considerada potável. (fontes: Cultivando e blog da Amália Godoy)
À partir dos dados acima, caso não sejam urgentemente tomadas as devidas precauções, não tardará e os 12% (que não são mais que "uma gota no oceano") do Brasil também poderão escassear rapidamente, o que nos deixará em maus lençóis (literalmente se falarmos de lençóis freáticos), fora a possibilidade do nosso país ficar na mira dos sedentos do restante do mundo.

fonte: jairclopes
Além do mais, somos péssimos no quisito preservação, não é verdade? Basta lançar o olhar em rios que outrora foram importantíssimas fontes de água potável para a população - isso quando as cidades atuais não passavam de vilas e fazendas - e ver o quanto estão poluídos. Ou será que existe alguém que acredite que o Rio Tietê, no trecho da Grande São Paulo, foi sempre aquela podridão tal como o é? Ele era límpido e, diferentemente de hoje, repleto de meandros (sinuosidades).


Aliás, meandros aumentam em muito a dimensão longitudinal dos rios e isso é fator preponderante para a autorecuperação da qualidade das suas águas. Esta é a observação de um leigo (eu), mas que pode ser comprovada ao avaliar que conforme o Tietê se afasta da Grande São Paulo, gradativamente a água vai se tornando menos poluída até que a partir de determinado ponto fica límpida e volta a ter vida.


Por outro lado, as porções de terra entre meandros são parte da calha natural dos rios, isto é, durante as cheias as águas sobrepassam estas terras garantindo assim o não represamento, ou seja, alagamentos apenas dentro dos limites de sua calha. Podemos então dizer que a largura média de um rio equivale à média de largura de seus meandros.


No caso do Tietê, em São Paulo, aterraram os meandros para desentortar o rio, construíram em cima dos aterros e agora reclamam pelas fortes enchentes que ocorrem nas suas margens. Vai entender o ser humano...

Rio Tamitatoala, exemplo de como era o Tietê há 400 anos.
fonte da imagem: skyscrapercity
Tietê com o traçado atual
fonte imagem: culturamix
Trecho com mudanças mais recentes (antes e depois)
fonte: Ecotiete

O MEIO RURAL

Agrotóxicos

Enquanto os grandes centros urbanos envenenam seus cursos d'água com esgotos, lixo e produtos químicos, o meio rural não deixa por menos. Os agrotóxicos utilizados em muitas lavouras brasileiras, dentre os quais estão alguns cujo uso é proibido em outros países devido os enormes prejuízos que causam à saúde, ou adentram no lençol freático (veio de água no subsolo) junto com as águas da irrigação ou são levados pela chuva. Nos dois casos, a água misturada aos elementos químicos irá para algum córrego e este normalmente a levará para um lago e/ou rio, contaminando-os, isto é, tornando as suas águas impróprias para o consumo além de eliminar as formas de vida neles contidas. (leia mais sobre os agrotóxicos em CEGeT)
Agrotóxico sobre arrozal (plantas e água)
fonte: CEGeT
Desmatamentos, erosões e assoreamentos

Vale ainda salientar que muitos sitiantes e fazendeiros desmatam indiscriminadamente suas propriedades como forma de conseguir maior espaço para as culturas agropecuárias, levando os seus limites de maneira irresponsável até as margens de córregos e rios. Sem a denominada "mata ciliar", os cursos d'água ficam a mercê de assoreamentos (obstruções por sedimentos, areia ou detritos) causados pela erosão das suas margens.

Exemplo de assoreamento (visíveis erosões nas margens)
fonte: EducarBrasil
Destruição de áreas de mananciais

De outro modo, a retirada da cobertura vegetal das áreas de mananciais (fontes de água superficiais ou subterrâneas procedentes de lençóis freáticos), aterro e/ou o pisoteio por animais (bovinos, equinos, caprinos, suínos e outros) introduzidos nestes ambientes causam o endurecimento e a consequente impermeabilização do solo, o que as faz gradativamente secar e a diminuir o volume de água nas bacias hidrográficas das quais fazem parte. 

O problema maior é que não "matam" apenas uma nascente (o que já seria grave) dos sistemas hídricos naturais. Se pudessemos fazer um levantamento histórico-cartográfico de todas as áreas de mananciais que já foram destruídas Brasil afora tendo como causa principal os fatores acima, ficaríamos atônitos. Verdade seja dita: muita água já deixou de rolar rio abaixo.

Exemplo de manancial (nascente)
fonte: Portal do Agronegócio
Desvios de córregos e rios

Há ainda um outro fator no meio rural que auxilia a diminuir gradativamente o potencial hídrico brasileiro: o desvio dos cursos naturais de água para beneficiar esta ou aquela fazenda ou sítio em particular. Ao desviar um córrego, o antigo traçado seca, isso é óbvio. Todo o bioma que dependia daquelas águas é perdido. Fora isso, nas margens de córregos e rios normalmente desembocam milhões de micro-lençóis freáticos, oriundos das águas pluviais que adentram o solo no seu entorno. Ao modificar o traçado, a umidade das margens desaparece e o solo argiloso endurece, bloqueando assim essas micro-fontes, cujas águas acabam evaporando. Isso sem contar que normalmente é feito aterro sobre o traçado "morto" e lhes dão outros usos. Desse modo, "matam" gradativamente os afluentes e, consequentemente, os rios que eles alimentam.

Mar de Aral, o maior exemplo

O melhor exemplo dos efeitos danosos causados por desvios de curso d'água e o mais conhecido no mundo é o caso do Mar de Aral.  Situado entre o Cazaquistão (norte) e Uzbequistão (sul), ele era um imenso lago de água salgada, até então considerado o quarto maior lago do mundo com os seus 68.000 km² de superfície e 1.100 km³ de volume de água, isso até 1960. A partir dessa data ele começou a diminuir rapidamente de volume e hoje está com menos de 10% do original.

"Mar de Aral, em 1989 e 2008"
fonte: wikipedia
 A causa dessa enorme calamidade ambiental se iniciou em 1918, quando o governo russo resolveu desviar parte das águas de dois rios que o alimentavam, o Amu Darya (ao sul) e o Syr Darya (no nordeste), para irrigar vastos campos de alimentos e principalmente de algodão, na época super valorizado e por isso chamado de "ouro branco". Com o passar do tempo foram ampliando o volume de água desviado até que "de 1961 a 1970 o lago baixou 20 cm ao ano, e essa taxa cresceu 350% até 1990" (Wikipedia). Os efeitos foram devastadores, como pode se ver nas fotos abaixo:

"Embarcação abandonada perto do porto de Aral, Cazaquistão"
fonte: wikipedia

"O lago deu lugar ao Aralkum, um deserto de sal e poluentes sólidos"
fonte: wikipedia
Leia mais sobre o Mar de Aral no Wikipedia.

Algum desavisado poderá dizer que os casos brasileiros de desvio de cursos d'água são diferentes daqueles nos afluentes do Mar de Aral, pois aqui são desviados apenas pequenos córregos e não rios. A este eu responderia que todo e qualquer córrego, quando  não desemboca diretamente no mar, desagua de um modo ou de outro em um rio e, portanto, é importante para a manutenção do volume hídrico deste último. Queiramos ou não, rios também secam e exemplos como o Mar de Aral devem servir sim como aprendizado para que não cometamos os mesmos e grosseiros erros.

RIO AMAZONAS

Já sabemos que 12% da água doce do mundo está no Brasil.  Acontece que 79,7% desse "potencial hídrico estão localizados na Região Norte, que possui 7,8% da população e a menor demanda no território nacional. Particularmente, a região Amazônica, que corresponde a 54,48% do território, abriga uma escassa população de 1 hab/Km2." (Amália Godoy)

Isso explica o porque dos apagões ocorridos tempos atrás quando, apesar de dispormos de tanta água, tivemos fortíssimas e sucessivas secas que resultaram em racionamentos de energia elétrica e de água. Tais episódios comprovam que não estamos isentos de também sofrer com a escasses de água doce. Se pudessemos distribuir as águas do rio Amazonas para o país inteiro, até que teríamos motivos para ser otimistas, porém isso é praticamente impossível por causa das dimensões do nosso país. Se não conseguem levar água para o Polígono das Secas, quiçá para as regiões mais longínquas, ao sul.

Por falar no rio Amazonas, muitos de nós acreditam que a sua caudalosidade é infinita. Talvez o seja, porém até quando suas águas estarão isentas das poluíções que podem torná-las impróprias para o consumo? Caso aconteçam secas mais fortes nas outras regiões do Brasil, será natural que milhões de pessoas migrem para suas proximidades, inclusive estrangeiros. Uma superpopulação naquela região será o suficiente para envenenar as águas do rio com esgotos domésticos e industriais, fato que já ocorre quase que imperceptivelmente e vem aumentando paulatinamente. Se não forem tomados os devidos cuidados desde agora, é possível que a sua potabilidade esteja seriamente comprometida não mais que em duas décadas.

Não nos esqueçamos também que boa parte do Amazonas e de muitos de seus afluentes não se encontram em território brasileiro. Basta olhar no mapa para perceber que as suas nascentes estão nos países vizinhos e caso eles resolvam criar barragens e/ou lançar dejetos e produtos químicos rio acima, com certeza comprometerá a qualidade das águas em território brasileiro, o que, além dos problemas de poluição, poderá ainda causar sérios problemas diplomáticos.

Rio Amazonas e seus afluentes
fonte: wikipedia

Recentemente foi noticiada a descoberta de um "rio" subterrâneo de 6 mil quilômetros que corre por baixo do rio Amazonas a uma profundidade de 4 mil metros. Por enquanto não precisamos dele e vamos torcer para que não precisemos tão cedo. Retirar água dessa profundidade tem um custo muito elevado, o que seria repassado para os usuários. Em outras palavras, o metro cúbico de água doce teria um preço muito salgado.


O MAIOR VILÃO DE CONSUMO DE ÁGUA

Temos visto muitas e necessárias campanhas contra o desperdício de água e elas nos pedem que:
  • evitemos tomar banhos prolongados;
  • deixar torneiras abertas somente o estritamente necessário;
  • não deixemos torneiras pingando;
  • acumular uma certa quantidade de roupas sujas antes de levá-las à máquina;
  • troquemos as válvulas de descarga por vasos sanitários com caixas acopladas;
  • economizemos na hora de regar plantas, lavar automóveis e calçadas usando baldes e não mangueiras;
  • etc.
Sim, é necessário que façamos a nossa parte, mas isso apenas basta? Fará com que a escasses de água doce no mundo diminua? Ajuda, mas numa proporção tão pequena que mal conseguimos perceber os resultados. E por que isso acontece? Os números a seguir sobre o percentual de consumo de água doce no Brasil nos trazem a resposta:
  • 7% é utilizada pela indústria;
  • 13% é consumida pelas residências (11% urbano e 2% rural);
  • 80% é utilizada pela agropecuária (69% na agricultura e 11% na produção animal). (fonte: Cultivando)
Isso mesmo! A agricultura sozinha é responsável pela utilização de 69% de toda água doce consumida em nosso país! Então, se quisermos realmente buscar formas de economizar nosso precioso líquido, é por aí que devemos iniciar.

- Isso quer dizer que devemos extinguir ou diminuir a agricultura irrigada?
R. De forma nenhuma! A agricultura irrigada é responsável por quase metade da produção mundial de alimentos. Ela é muito mais produtiva que a agricultura por sequeiros. Para se ter uma idéia, segundo o site Cultivando, "o arroz de sequeiro (sem irrigação) produz aproximadamente 2 toneladas por hectare, e o arroz irrigado produz de 8 a 10 toneladas por hectare. Podemos notar que sem a agricultura irrigada, seria impossível a produção de alimentos para toda a população, mesmo que todas as áreas agricultáveis fossem utilizadas." (leia mais sobre o assunto no Cultivando)

- Mas... E quanto a economizar água em casa? É bobagem?

R. Todo e qualquer esforço para economizar água será bem-vindo, ainda que com poucos resultados. Não podemos esquecer da dificuldade das empresas em levar a água até nossas casas. Afinal, a água usada na agricultura não precisa ser tratada enquanto que a potável sim e esse tratameno tem um alto custo para os cofres públicos. Tem ainda o principal motivo: quanto mais se economiza água potável, menos esgoto é produzido, além do que faz um bem danado para nossos bolsos.

Em condomínios a coisa fica um pouco mais complicada porque normalmente a medição e o pagamento da água consumida não são individualizados, isto é, existe apenas um medidor para todos e quem paga é o próprio condomínio. Acontecem então desperdícios imensos visto um fator inerente ao ser humano: o egoísmo. "Pra que me preocupar com vazamentos ou tempo no banho se a conta é dividida entre todos? O que adianta eu economizar se o meu vizinho não faz o mesmo?" Estes são os pensamentos da maioria dos moradores de condomínios.

Nos condomínios verticais há um outro problema. Nos andares inferiores a pressão da água é muito maior e o consumo dela em apenas um banho de dez minutos pode equivaler a vinte ou trinta minutos de banho numa casa normal, isso porque a pressão é tanta que a maioria desses moradores adora usar o chuveiro como "hidromassagem" e sentir a água cobrindo os pés dentro dos boxes.

Para solucionar esse problema, é dever do Estado tornar obrigatório de uma vez por todas o sistema de individualização de água em condomínios em todo território nacional, solução essa que já está sendo adotada por alguns municípios, tal como a cidade de São Paulo pela Sabesp.

Mais informações sobre este sistema e suas vantagens estão no site do PróAqcua.

AQUÍFEROS DO BRASIL

Felizmente o Brasil dispõe ainda de imensas reservas de água doce no subsolo, os denominados aquíferos. O mais conhecido deles é o Aquífero Guarani, que era considerado a maior reserva de água doce subterrânea do mundo*. Com seus 55 mil km³ de volume de água e 1800 metros de profundidade máxima, tem a capacidade de carregamento de 166 km³ ao ano com as precipitações pluviométricas. Estima-se que este volume de água poderia suprir a necessidade mundial por água potável em até 200 anos.

*O geólogo Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, afirmou que "O Guarani é um aquífero extremamente importante para o Brasil e para a América Latina, mas não é o maior do mundo. Há pelo menos um aquífero, na Austrália, que é maior que o Guarani." (fonte: R7)
Aquífero Guarani (em azul)
fonte: wikipedia
Aquífero Guarani em perigo

De acordo com o wikipedia, "a maior parte (70% ou 840 mil km²) da área ocupada pelo aquífero — cerca de 1,2 milhão de km² — está no subsolo do centro-sudoeste do Brasil. O restante se distribui entre o nordeste da Argentina (255 mil km²), noroeste do Uruguai (58 500 km²) e sudeste do Paraguai (58 500 km²), nas bacias do rio Paraná e do Chaco-Paraná. A população atual do domínio de ocorrência do aquífero é estimada em quinze milhões de habitantes." 

Essa estimativa de quinze milhões de habitantes sobre o Guarani é no mínimo alarmante. Ao imaginar a quantidade de lixões e a poluíção em rios que um número assim de pessoas gera e que o venenoso chorume dos lixões e as águas poluídas normalmente se infiltram no solo - o que pode já estar contaminando o aquífero -, a nossa preocupação se amplia. Isso sem contar a imensa quantidade de terras cultivadas que usam agrotóxicos que também estão sobre suas "costas". Estes são motivos mais que suficientes para que o Governo adote medidas imediatas com o objetivo de despoluir rios, tratar esgotos, eliminar aterros sanitários e controlar o uso de agrotóxicos nas lavouras.

fonte: jornal da educação

AQUÍFERO ALTER DO CHÃO

No início do ano passado (2010), pesquisadores apresentaram um estudo apontando o aquífero Alter do Chão, na região amazônica, como o maior do mundo em volume de água potável. Localizado nos estados do Amazonas, Pará e Amapá, tem 86.400 km³ de água, ou seja, quase o dobro do Aquífero Guarani, o que relegou este último ao segundo lugar na categoria "maior reserva de água doce subterrânea do mundo". Apesar de ter uma área menor, 437,5 mil km², a sua espessura média é de 545 metros, bem maior que a do Guarani, o que redunda em maior volume do liquído precioso.


Aquíferos Guarani e Alter do Chão
fonte: ituresiste
Pouco mais de um ano depois dos resultados desse estudo ser noticiado, o Alter do Chão já está causando desconforto nos cientistas responsáveis. O site Amazônia Informa diz que "o desprezo do governo federal e o desinteresse da Agência Nacional de Águas (ANA) está levando o gigantesco aquífero Alter do Chão, no município de Santarém, para as mãos de pesquisadores estrangeiros e, por via quase direta, para as mãos de potências estrangeiras". Segundo o site, essa informação foi passada pelo cientista paraense Milton Mata em entrevista.

Milton da Mata foi o responsável pelo estudo que identificou a nova dimensão do aquífero. Porém, existe ainda a necessidade de estudos mais aprofundados e concludentes que possam afirmar com precisão sua extensão (apesar de que restam poucas dúvidas de que o Alter do Chão seja mesmo o maior do mundo). Milton reclama porque, segundo ele, não existe necessidade para se fazer a licitação, principalmente para estrangeiros, afinal os cientistas locais são extremamentes capazes de levar as pesquisas a cabo. As suas palavras na entrevista:
"A licitação em si não teria sentido, uma vez que existe um grupo que o conhece, que o está estudando, que é da região e que por isso mesmo conhece as condições sócioeconômicas e políticas locais. Isso, associado à competência profissional desse grupo, sua vasta experiência na matéria, demonstrada pelos inúmeros trabalhos publicados nas últimas décadas sobre o assunto, já justificaria a não realização de licitação."
 Causa-nos "estranheza" essa atitude do governo, cujo partido antes de assumir o "poder"  fazia inflamados discursos de repúdio aos estrangeiros (principalmente americanos) e que hoje parece querer... Como dizer?... Fazer lotes daquilo que se tem às mãos? A partir desse mesmo pressuposto, será que foi por real necessidade que a "menina dos olhos" do governo atual, o petróleo do pré-sal, está sendo explorado em consórcio com empresas... americanas? Mistério...

Privatização das águas

O alarde de que a água pode escassear a ponto de causar enormes conflitos desperta a cobiça de empresas estrangeiras interessadas em entrar na onda de lucros que o negócio com "petrágua" possa gerar. Eis o maior perigo que corremos: a privatização das águas e, pior, por empresas estrangeiras. Resta-nos saber também se este alarde não tem o mesmo objetivo daquele que dizia que milhões iriam morrer de gripe aviária, isto é, gerar lucro através do medo. Vai saber...

DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA DO MAR

"Transformar a água do mar em água potável é uma coisa que a humanidade sempre quis", diz o documentário do Discovery Channel sobre dessalinização. Realmente, esta seria hoje a melhor forma de resolver o problema da maioria dos países com dificuldades para obtenção de água potável. O documentário mostra especificamente o caso do estado da Flórida, nos EUA, no qual aproveitaram a água de resfriamento de uma usina elétrica, água esta retirada do mar, e a faz passar pelo processo de dessalinização e purificação. Como resultado, 95 milhões de litros de água potável são fornecidos diariamente para a população, tal como poderá constatar no vídeo-documentário abaixo:



O país que mais investiu na dessalinização foi Israel, contando hoje com 10% do seu abastecimento de água potável sendo produzido por este processo. O vídeo-documentário da Globo Vídeos abaixo mostra algumas instalações em Israel e seu funcionamento e também o modelo utilizado no nordeste brasileiro.









 ÁGUA DESSALINIZADA MADE IN BRAZIL

Fora o modelo utilizado no Polígono das Secas, o Brasil conta também com um modelo inédito de dessalinização de água do mar que, diferentemente de processos semelhantes, além de produzir uma água leve sem gosto de sal e de excelente qualidade, também mantém 63 tipos de minerais encontrados na água do mar que, segundo Annibale Longhi, criador do processo, são essenciais para a saúde humana. No entanto, não é de uma estação de dessalinização que estamos falando, mas sim de uma pequena empresa, a Aquamare, localizada na cidade de Bertioga, litoral norte de São Paulo.

A empresa retira a água do mar a uma distância da costa de Bertioga que seja suficientemente segura para se evitar agentes poluentes e pequenos detritos. Depois a água salgada passa pelo processo de nano filtragem e seleção de minerais, resultando em água potável com as propriedades que lhe diferem das demais. Porém, não é consumida pelos brasileiros e sim exportada para os EUA. Entenda o motivo nas duas reportagens abaixo, uma do SBT e outra da Record News:

Reportagem do SBT

Reportagem da Record News

Podemos notar então que o Brasil, com todos os seus rios e aquíferos, é mais que o país com o maior volume de água potável do mundo. Ele também é o país que poderá resolver o problema da água no mundo por meio dos seus cientistas e inventores que, apesar de todas as dificuldades que o próprio país lhes impõe, seja da falta de investimentos financeiros para seus projetos ou de normatizações que liberem a comercialização dos seus produtos (sem contar as dificuldades de patente), ainda assim buscam soluções criativas que beneficiem a humanidade. Parabéns ao senhor Annibale Longhi não somente pela criação do processo, mas também pela determinação em levar o projeto adiante mesmo sem contar com a boa vontade do governo brasileiro.

BARRAGENS E CONFLITOS

Problemas diplomáticos por causa da água são enfrentados por muitos países, na maioria das vezes relacionados à barragens construídas em rios multinacionais, isso porque construções como essas ocasionam inúmeros prejuízos no meio ambiente daqueles que estão nas partes mais baixas dos rios. Um dos exemplos mais contundentes do quanto uma barragem possa causar prejuízos, apesar de não gerar problemas diplomáticos, é o da barragem de Assuã, construída pelo Egito no rio Nilo, que causou sérios prejuízos ao meio ambiente daquele país, desde a perda de boa parte da fertilidade das margens do rio até extremos problemas de erosão no Delta do Nilo, que fizeram desaparecer vilas inteiras.

Rio Nilo (Assuã e Delta do Nilo) - imagem do Google Earth

Agora o Egito está enfrentando um problema ainda mais sério e assustador, este sim com enorme potencial de virar conflito armado com países vizinhos. Artigo sobre o assunto no site Terrazul diz que:
"O crescimento populacional no Egito, no Sudão e na Etiópia está ameaçando um conflito ao longo do rio mais comprido do mundo, o Nilo. A Etiópia está pressionando por uma parte maior da água azul do Nilo, mas isso prejudicaria o Egito. E o Egito está preocupado com a parte branca do Nilo que corre através de Uganda e Sudão, e que poderia ser esgotado também antes que alcance o deserto de Sinai." (Terrazul)
Assim como o Amazonas e o Nilo, muitos outros rios no mundo também têm mais que uma nacionalidade. Na Europa, por exemplo, tem o rio Tajo, na Espanha, ou Tejo, em Portugal, que é considerado o rio mais extenso da Península Ibérica. Nasce na Serra de Albarracin na Espanha, passa por Lisboa em Portugal e deságua no Atlântico. O Reno, por sua vez, nasce na Suíça e percorre a Áustria, Principado de Liechtenstein, Alemanha, França e Países Baixos, desaguando no Mar do Norte.


Fora o problema das barragens, existe ainda a possibilidade dos países "rio acima" prejudicar seus vizinhos de outro modo: com a falta de saneamento adequado que redundará na poluição das águas que descerão "rio abaixo".


Enfim, quando um dos países achar que pode fazer o que quiser com os rios, começam os conflitos e é isso que precisa ser evitado a todo custo.


O MUNDO PODE MESMO ENTRAR EM GUERRA POR CAUSA DA ÁGUA?


A partir do que foi explanado acima, se não forem tomadas as devidas precauções e caso o ser humano continue sendo egoísta, é bem possível que sim. Por esse prisma, devemos deixar claro que água potável não pode ser visto meramente como patrimônio desse ou daquele país, mas sim como patrimônio da humanidade, portanto quando pensarmos em preservar, cuidar, despoluir e tudo o mais relacionado à água potável, pensemos que não o será apenas para salvar a população brasileira, mas também para auxiliar na manutenção da humanidade como um todo.

- Quanto custará aos cofres públicos todos estes cuidados com a água potável?


R.Não importa! Custe o quanto custar, será sempre o melhor dos investimentos, mesmo porque não devemos esquecer que A VIDA NÃO TEM PREÇO!


Para fechar esse artigo, deixo abaixo uma pequena coletânea de documentários sobre a água, todos "garimpados" na internet.


Feliz 2012, 2025, 2050, 2100... para todos os habitantes deste minúsculo planeta água chamado Terra!

 -*-*-*-

Introdução do primeiro vídeo, Ouro Azul - Guerra Mundial da Água, narrado por Malcolm Macdowell:

“Em 1906, Pablo Valencia atreveu-se a viajar do México até a Califórnia para ir à procura de ouro. Ele conseguiu sobreviver sem água durante uma semana. Sete dias. Ele foi salvo e documentou a experiência da sede:

- A saliva tornou-se espessa. Um sobressalto parece cair para dentro da garganta. 

- A língua incha de tal forma que fica apertada dentro do maxilar.

- A garganta incha de tal forma que se torna difícil respirar e isto cria uma terrível sensação como se fosse um afogamento.

- A cara dá a sensação de que está descaída devido ao encolhimento da pele.

- Muitas pessoas começam a ter alucinações.

- As pálpebras começam a estalar e os olhos começam a chorar gotas de sangue.

 Quando encontraram o Pablo Valencia a sua pele parecia cabedal cinzento púrpura, arranhada, mas sem vestígios de sangue. Os seus lábios tinham desaparecido como se tivessem sido amputados. O seu nariz tinha a metade do seu tamanho. Os seus olhos estavam encerrados numa mirada vazia.”

“Este não é um filme sobre a salvação do ambiente. É um filme sobre salvarmo-nos a nós próprios. Porque, indiferente de qual seja a nossa opinião ambiental, política ou religiosa; independente da raça, sexo ou situação econômica, se qualquer um de nós ficar sem água durante uma semana... CHORARÁ SANGUE!!!”

Ouro Azul - Guerra Mundial da Água

A Água Também se Esgota

Água Viva - TV Marília


Para finalizar, deixo a música "Chega de Mágoa", de 1985, quando 155 artistas e músicos brasileiros se reuniram para arrecadar verba em benefício do povo carente do nordeste no projeto denominado NORDESTE JÁ.

Chega de Mágoa

The end...



...ou um novo início? Isso caberá a nós optar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Visitantes e amigos pelo mundo