Maranhão 66: o discurso retórico dos mentirosos

Miséria no Maranhão Foto: R7 Notícias

Arnaldo Jabor comentou e resolvi conferir. O filme documentário Maranhão 66 do famoso cineasta criador do Cinema Novo, Glauber Rocha, que retrata o momento da cerimônia de posse de José Sarney como governador do Maranhão em 1966, dois anos após o golpe que derrubou João Goulart da presidência da República e instituiu de forma ditatorial que durou pouco mais de duas décadas (1964-1985), realmente vale a pena ser visto.

É mais que uma obra de arte, pois trata-se de documento histórico que expõe claramente o quanto (não) devemos dar crédito aos discursos exaltados dos políticos e para que compreendamos de vez que entre o discurso e a prática há uma loooongaaaa distância.


Vale aqui ressaltar que a cerimônia de posse mostrada foi o marco inicial do controle político da família Sarney sobre aquele estado, o qual durou um período de tempo muito maior que a própria ditadura militar, somente interrompido no início de 2007 com a posse do então governador eleito Jackson Lago. Importante lembrar que o final da ditadura deu-se quando Tancredo Neves, sucessor do presidente João Figueiredo, foi escolhido indiretamente pelo Colégio Eleitoral, que era formado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados. Mas Tancredo, na véspera de sua posse, foi internado em estado grave por causa de um mal súbito, o que o levou à morte em 21 de abril de 1985. Assumiu a presidência em seu lugar o vice, José Sarney.

Retornando ao filme, a "sacada" genial de Glauber foi ter aproveitado o discurso do amigo Sarney para mostrar a extrema miséria em que se encontrava o estado do Maranhão. O próprio José Sarney, em entrevista ao Jornal do Brasil no dia 25 de agosto de 1981, visivelmente insatisfeito, disse:

"Tomava eu posse no governo do Maranhão e fiz uma ousadia que não deveria ter feito com um amigo da estatura de Glauber Rocha. Eu lhe pedira que documentasse a minha posse. Glauber fez o documentário que foi passado numa sala de cinema de arte, há 15 anos. E quando o público viu que uma sessão de cinema de arte ia ser passado um documentário que podia ter o sentido de uma promoção publicitária, reagiu como tinha que reagir. Mas aí, o documentário começou a ser passado, e quando terminaram os 12 minutos o público levantou-se e aplaudiu de pé, não o tema do documentário mas a maneira pela qual um grande artista pôde transformar um simples documentário numa obra de arte: ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza, filmou as esperanças que nasciam do Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de ruas, e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse, dentro daquele documentário, como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado."¹

Segundo Jabor, o cineasta era muito amigo do Sarney e ficou tão entusiasmado que chegou a dizer que ele era o "político do futuro", pois também acreditou nas suas falas demagógicas. Nota-se aqui um fato curioso e interessante: muitos intelectuais, apesar de toda genialidade e inteligência, se deixam levar por discursos persuasivos ainda que não se comprovem a praticidade ou possíveis utopias das idéias que lhes são ditas, ou ainda a credibilidade do locutor. Daí os arrependimentos futuros e as dissidências dos grupos ideológicos dos quais antes participavam entusiasticamente.

O Maranhão atual foi classificado pelo IBGE como o estado campeão em miséria, à frente de Piauí e Alagoas, segundo notícia do R7, com 25% da população ganhando até R$ 70,00 mensais. Desde o discurso do Sarney mostrado no filme até a posse de Jackson Lago, foram 45 anos que este estado ficou sob sua "batuta" e da sua família. Antes deste período, foi deputado. Depois, governador, senador e até presidente (sic!). E o Maranhão? Continua o mesmo...

Se hoje estivesse vivo, Glauber talvez fizesse outro filme tendo o mesmo discurso como base, porém com imagens atuais e coloridas da eterna miséria não apenas maranhense, mas do Brasil como um todo, como um ato de arrependimento e revolta por ter acreditado tanto naquele que era seu amigo e que ironicamente foi quem lhe pediu para eternizar a própria falácia.

Resumindo: se até os considerados gênios se deixam levar pelo engôdo dos discursos retóricos daqueles que têm o "poder da palavra", o que dirá de nós, meros mortais? Tal como já escrevi em outro post, sejamos sempre sacerdotes de nós mesmos!

Acorda Maranhão! Acorda Brasil!!!

4 comentários:

  1. Realmente esses políticos gostam de demagogia e fecham os olhos, coração e ouvidos para os pequenos e pobres miseráveis do Brasil, que são milhões de brasileiros. Mas eles esquecem que Deus vê tudo o que se faz no mundo, de bom e de ruim. E eles terão que prestar contas a Deus.

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  2. É, amiga linda. Um dia todos descobrirão o quanto pesa a responsabilidade da má condução de cargos políticos.

    Beijo no teu lindo coração...

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  3. Olá meu amigo nas próximas eleições votarei em você,rs

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  4. Obrigado pelo voto de confiança, amiga linda! rsrs Beijos,,,

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