A dimensão da dor

foto: parami.org
Ao ler o artigo "A dor do amor" no blog de Ivaldete Piunt, pude constatar que cada vez mais fica comprovada a relação entre a dor-sofrimento com o apego de um modo geral. Isso não é novidade, pelo menos para mim que passo passei por isso. hehehehe. Inclusive costumo conversar sobre essa dor/apego com pessoas amigas quando preciso precisam de uma boa palavra.


Não estamos falando das dores causadas por traumas físicos ou doenças, mas sim da emocional, aquela que sentimos quando "perdemos" algo ou alguém, apesar de que até mesmo as dores físicas são menos ou mais suportáveis de acordo com o valor que damos a elas, ou seja, do quanto fixamos nossos pensamentos no ferimento ou no órgão doente, o que também não deixa de ser uma forma de apego, não é vero?

Pesquisei a origem da palavra “apego” e encontrei este interessante comentário no blog Karaloka:

"Em português, apegar é ‘a + pegar’ e ‘pegar’ é ‘pico, picare’, em latim; ou seja, ‘pegar’ existiu em latim. Pegar tem o radical ‘peg-‘, que vem de ‘pez’, que é a resina que escorre dos pinheiros. Pense em ‘apegar’ como algo ‘pegajoso’, ‘untuoso’, ‘grudento’, como são as resinas. ‘PEGOU’?"

Disso podemos subentender que além do "apegar-se" significar "apoderar-se de", "grudar-se a", "achar-se proprietário de" entre outros significados do gênero, também quer dizer "fixar o pensamento em". A palavra nos leva a criar buscar outras raízes, usando como prefixo o “up” da língua inglesa, cuja tradução é “para cima”, complementado por “ego”. “Up-ego” ou “ego sobreposto, elevado, para cima”. hehehehe

Se levarmos em consideração que todas as sensações causadas pelos nossos sentidos são formas de pensamento, podemos concluir que as dores tanto emocionais quanto físicas não são outra coisa, daí o sentir mais ou menos intenso de acordo com o valor mental que lhes damos. Não é por acaso que existe o chamado efeito placebo (vale a pena ler).

Isso me faz lembrar quando precisei tomar uma daquelas doloridas injeções de benzetacil e a enfermeira me disse “pense que está na praia observando lindas garotas a beleza do mar e relaxe”. Assim que comecei a me concentrar na imagem sugerida ouvi um “pronto!”. Ela já havia aplicado sem que eu percebesse nem mesmo a picada da agulha. Sábia enfermeira!

Quando nos apegamos de forma demasiada a objetos ou pessoas e repentinamente nos sentimos privados deles é como se nos tivessem arrancado um pedaço. Na verdade, se nos apegamos é porque nos provocavam pensamentos que nos recompensavam com doses de dopamina, serotonina, adrenalina e outros neurotransmissores responsáveis pela satisfação e conseqüente sensação de conforto psíquico ou, em outras palavras, de felicidade. 

Os efeitos não são muito diferentes daqueles que acontecem com certos vícios (ou paixões), tais como jogo (inclusive eletrônicos), sexo, álcool e outras drogas, dependências das quais a dopamina é co-responsável ¹. Então a "perda" do objeto de apego representa também o fim da tal recompensa bioquímica e o indivíduo entra num doloroso estado de abstinência que, dependendo da sua intensidade, pode causar sérios danos a sua saúde física e mental. Escrevi algo parecido em outro post, só não lembro qual. É o DNA. rá rá rá rá

Isso quer dizer que amor é vício? Que ele é uma mera questão de reações químicas no cérebro? Bem, até agora não falei em amor, a não ser no título do artigo que citei no início. Aliás, falar que amor causa dor é uma total contradição, não é verdade? Como poderia causar qualquer sofrimento o mais nobre dos sentimentos? O amor não, mas a paixão sim. E há diferenças entre amor e paixão? Muitas! Apenas para citar algumas:

Paixão é um conjunto de instintos; o amor a sua evolução. A paixão pode se tornar amor (ou ódio); o amor jamais retrocede da sua condição. A paixão é da química; o amor é da alma. A paixão é finita, visto que é da química; o amor é para sempre, visto que é da alma. A paixão é do ego, portanto apego; o amor está no Eu, portanto liberdade. A paixão é idéia fixa; o amor é a mais ampla visão. A paixão sofre e faz sofrer; o amor é suave e faz sorrir. A paixão não admite a felicidade do outro sem ela; o amor é feliz com a felicidade do outro sob qualquer condição. A paixão é cega; o amor se faz de cego quando necessário, porém enxerga muito além do que os olhos possam ver. A paixão julga, condena ou perdoa; o amor não condena e nem perdoa, busca sempre a compreensão. A Ciência pode explicar a paixão, mas para o amor não existe explicação.

Com relação ao que sentimos pelas pessoas, na maioria dos casos paixão e amor se misturam e se confundem. Quando em equilíbrio, a possessividade da paixão é controlada pela racionalidade do amor e torna-se branda e saudável. Um exemplo clássico é a relação dos pais com os filhos. Porém, quando ela se sobrepõe, ocorrem efeitos danosos tais como excesso de zelo, cobranças em demasia, discussões descabidas e até atos de violência verbal e/ou física, além é claro do intenso sofrimento para ambos, chegando a ponto do outro, ao se sentir “sufocado”, se rebelar e buscar adquirir a sua liberdade a qualquer custo. Em algumas pessoas a dor pode chegar a ponto de causar total bloqueio da racionalidade e a fixarem-se na infeliz idéia de praticar o pior contra si ou contra o outro.

Assim entendemos que o apego está ligado diretamente às paixões e podemos sentir por objetos, veículos, ideologias, grupos, músicas, esportes, obras de arte, filmes, animais entre uma infinidade de outras coisas e, principalmente, por pessoas. Há quem diga que “ama” os pássaros e por isso os mantêm presos em gaiolas para o seu constante deleite. Isso é amor? Quem ama verdadeiramente? Aquele que prende ou o que mantém liberto? E os sofrimentos causados por jogos de futebol? Acredite, não são poucos os que morrem pelos excessos de emoções durante uma partida. Também tem aqueles que matam para defender a “honra” do seu time. E o sofrimento sem igual das fãs pela proximidade de um ídolo? E aquela pessoa que sofre durante meses ou anos por causa de um “objeto de família” que foi subtraído?

Há ainda a dor daqueles cujo ente querido ultrapassou o limite da vida, mas dessa prefiro não comentar porque são muitos os valores envolvidos e qualquer questionamento poderá não ser bem interpretado, além de tender ao erro e ao desrespeito à dor alheia.

Digo apenas que devemos sempre ter a consciência de que nada nos pertence e que um dia teremos que deixar tudo, até mesmo o nosso corpo, aceitemos ou não. Sob esse prisma, ponderemos o quanto dizemos “meu”, “meus”, “minha”, “minhas” e analisemos se nossas dores estão ou não ligadas a estes pronomes designados como “possessivos”.

Já dizia Drumonnd de Andrade que “a dor é inevitável, o sofrimento opcional”.

Para finalizar, sugiro a leitura de um artigo que achei interessante e que talvez sirva como auxílio para nos aliviar a dor: O Apego.

Ah!  Com relação ao título deste post, é parte da conclusão de uma bela mensagem psicografada de alguém que sofreu muito até aprender que...

...”a dimensão da dor tem o tamanho exato do apego.”

2 comentários:

  1. "Neste mundo, tudo tem a sua hora; cada coisa tem o seu tempo próprio. O tempo de rasgar e o tempo de coser; o tempo de calar e o tempo de falar." Ec 3:1,7


    E saber discernir e respeitar os tempos próprios das coisas é sinal de grande sabedoria! Digo eu, apenas eu.
    Quando queremos forçar um tempo que não é natural, tudo vai sair errado, forçado.

    Quero deixar-me levar pelo vento, simplesmente, e viver o tempo que Deus tem para mim de momento. E esse tempo é, definitivamente, de estar calada.

    Não conheço a razão mas também não preciso de conhecer. Apenas respeitar e viver. Apenas deixar-me ir pelo vento suave do meu Pai.

    O mal de muitos nós é não sabermos respeitar o TEMPO.ALMERINDA

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  2. Tem razão, amiga linda. Que Deus abençoe a nós todos!

    Beijos no seu lindo coração...

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