O eleitor consciente e o (que se) distraído


Título original: Um eleitor consciente
Autor: eu
Criado em: sei lá, acho que há mais de dez anos
Publicado: jornal regional e comunidade do orkut
Quando: também não lembro
Modificado: hoje

Dois matutos, João e José, capinavam na roça de mandioca que tinham feito em sociedade. Os dois matutos passaram o dia ali, batendo a enxada contra o barro duro para retirar as ervas daninhas, mas sem trocar uma palavra sequer. Foi somente no momento da volta para casa que o silêncio foi quebrado:


- Jão, ocê já tem candidato certo pra votá?

- Inda não, Zé. To percurando oiá com mais atenção pra não fazê burrada.

- Oiá o que? Eles é tudo iguar.

- É não! Cada um tem um jeito especiar.

- Que jeito especiar que nada! Eles é qui nem muié marvada e interessêra, isso sim! Quando ta percisano darguma coisa aparece dizeno um monte de coisa bonita só pra módi ludibriá nóis. Adispois some no mundo levano toda a nossa isperança duma vida mió. O pió é qui ainda, adispois, a gente vê ela de braço dado com aquele home qui ela dizia que odiava. Mas nem as traíra das gamboa são tão farsa.

- Quié isso, Zé? Si nóis ficá pensano ansim nunca é qui as coisa vão miorá. No mei disso tudo tem muita gente boa! É por isso qui a gente tem qui oiá com atenção.

- Oiá o quê?

- Iguar ocê disse das muié. Arrepara qui aquelas qui qué disfarçá os defeito da cara si pinta além da conta. Os candidato é ansim: quanto mais defeito e farsidade, mais si pintam de bunito. Os bão se mostra de cara lavada, sem pintura arguma.

- Ara! Mas tem muié qui se pinta que não tem defeito na cara...

- ‘Xá di sê bobo, Zé! Eu falei ansim só pra ficá mais mió dintendê! É ingual aquela hitória do lobo qui sisconde no coro de cordêro pra módi inganá as oveia. Intão! A gente tem qui se apetrechá de lobo tamém pra não sê ingulido pelo danado.

- Jão! Ocê ta mi atrapaiando as idéia! Dá pra mispricá mió?

- O qui eu tô falano é qui a gente temos di ficá com o zóio bem arregalado. Premêro temos qui arrepará se a gente já conhece o candidato. Adispois a gente percura sabê se ele já aprontô arguma tramóia, se é bom chefe de famia, se sempre ajudô as pessoa ou se só fais isso nas época de eleição, se é véio ou novo na cidade e, se é novo, se vai ficá morano ou se vai simbora se não conseguí s’elegê. Tudo isso a gente percisa sabê pra podê votá dereito.

- Se é tudo isso, intão votá é difícer mêmo...

- Quem mi falô essas coisa foi a prefessora qui tá mi’nsinano o beabá e a feitura do meu nome. Ela falô tamém qui nóis precisa tomá cuidado com os candidato que gasta uma dinheirama fazeno campanha, pois qui quanto mais gasta mais necessita di ganhá. Ôtra coisa: percisa vê se ele sabe o qui os prefeito e os vereadô fais, se não num dianta de nada. Não carece deles sê muito letrado e nem doutô. Tem di sê gente di bem, mas tamém tem qui sabê o qui ta falano.

- I cumé qui vô sabê tudo isso?

- É fácir. O qui é di vereadô não pódi ficá prometeno asfartá as rua, fazê iscola, pinguela, colocá luis pelétrica e fazê ôtras coisas, di modo qui isso é coisa di prefeito, e o qui é di prefeito tamém não pódi prometê nada disso, pois qui não sabe se vai tê dinheiro pra fazê. Eles só pódi prometê qui vão trabaiá pra miorá as coisa pra todo mundo. Se prometê qui vão fazê um monti di coisa, vão tê qui dizê onde vão angariá dinhero pra módi cumprí com o qui prometeu. Não é fácir?

- Fácir inté qui é. O pobrema é qui viero uns candidato falano qui se eu prometê votá neles, qui eles mi dão aquele tratô qui to percisano pra módi fazê o roçado di café, o que já fechei negócio. Mim dissero tamém qui adispois eles descobre se eu votei mêmo neles, e qui se eu num tivé votado, qui eles mi processa.

- Porca madona, Zé, como ocê é burro! Eles não pódi processá ocê di manêra arguma! O voto é secreto por conta disso mêmo! Acaba é ocê processano eles. Se vié ôtros querendo comprá o voto, se quisé pódi vendê sem medo, mas adispois ocê só vota no candidato qui é bom di vera. É pru causa disso qui eu falei qui a gente tamém tem di se vestí de lobo...

- I seu quizé votá em quem mi dé na teia, sem me percupá com essas bobage?

- Aí o pobrema é seu! Adispois vai ficá iguar marido traído, falano qui a muié com qui casô num presta. Mas vai que ocê gosta...

8 comentários:

  1. kkkkkkkk super legal! super verdadeiro ... Pois é minha gente,,, vamos lá....
    todos por uma politica limpa!!!!!

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  2. A riqueza das suas reflexóes é uma coisa que surpeende a cada vez que venho aqui. Me divirto, me surpreendo de encontrar aqui, numa sucessão de idéias tão bem encadeadas coisas que meio caoticaamente passam pela minha cabeça.rs
    Mais observações sobre seu texto, estão como depoimento, lá na sua página do orkut.

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  3. [green]
    Adorei a escrita!!!sensacional !
    Não sei como consegue.Está de parabéns
    pelo talento.

    Muita paz

    Talma

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  4. Obrigado pela força, amiga linda!

    Beijos no coração...

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  5. Obrigado pelos seus comentários motivadores, amiga linda! Quem sabe nossas idéias simples, óbvias até, possam conseguir um mínimo aquilo que objetivamos ao criar este blog e no qual acreditamos ser a melhor forma de melhorar a vida de todos: conscientização!

    Beijos no seu lindo coração...

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  6. Oi, Talma! Que prazer vê-la por aqui, amiga linda! Obrigado pelo seu elogio. Esclareço que esse texto foi escrito há muitos anos, quando eu era articulista de um jornal regional e nesse tempo a cabeça fervilhava de idéias. Quem dera ter criado um blog naquela época. rsrs Perdi um pouco o jeito com a escrita, mas nunca é tarde pra recomeçar, né? rsrs Adorei a sua visita.

    Beijos no seu lindo coração...

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  7. pessoa linda e iluminada,, queria ter mais muito mais tempo pra ficar aqui, mas leio sempre td q posta ,, adorooo .
    fico aqui quietinha, mas tenho acompanhado seus comentarios.
    ate agora: parabéns, continuaa. bjoss no coraçao

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  8. Obrigado pelo carinho, amiga linda! Deus te abençoe sempre!

    Beijos no coração...

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